TRIBUTO A ZÉ NUNES: OS DESCENDENTES DO PE. MANOEL FÉLIX DA COSTA - por George Ney



Grande parte dos que tem suas raízes remotamente fincadas no triângulo CEVALA são provavelmente descendentes de um padre que vigariou por ali no século XVIII quando ainda não havia passado muito das pioneiras ações de tentar colonizar aquele torrão, trata-se do Padre Manoel Félix da Costa.
Nascido provavelmente em Pernambuco, aproximadamente em 1695, oficiou entre o quarto e o sexto decênio dos anos de 1700 vários locais do sul cearense: Brejo de Salamanca e Missão Nova (1740), Santana do Cariri (1740 e 1755), Cariús (1740 e 1741), Riacho do Rosário do Rio Salgado (1742 e 1749), Juazeiro do Rio Salgado (1743), São Mateus e Frade (1747), Missão dos Quixelôs (1753, 1764 e 1765), Missão da Telha (vários anos entre 1747 e 1769). Faleceu em 09.01.1774 e foi sepultado na Capela de Santana, da freguesia dos Inhamuns. [1]
Vamos aos fatos: era dezembro de 1965 quando o sobrinho Zé Nunes - José Nunes Bezerra, nascido a 14.05.1917 e falecido a 03.01.1987 - presenteara sua querida tia Mundinha - Raimunda Moreira da Silva - com um caderno de anotações para, de acordo com suas próprias palavras, ‘o que a senhora achar conveniente’. Nas primeiras páginas do caderno ela começara a relacionar todos os seus afilhados de batismo – cerca de 120, nas páginas seguintes algo sobre seu casamento com o tio Joaquim Vieira da Costa (tio Quinco), a seguir o rol de seus filhos com respectivas datas de nascimento, batismo e padrinhos, depois, a morte de seu primeiro consorte, e já à página de número 8 o que segue:
“Começo de todos os descendentes que pertencem a João Paulo Correia, Luis Gregório da Silva, Joaquim Vieira da Costa e Inez Gertrudes de Lima:
Havia no Pernambuco um Padre por nome Manoel Felix da Costa o pai de D. Angélica casouce esta com Manoel Vieira da Costa deste casal nasceram 8 filhos entre estes Pedro Vieira da Costa que (...)”
As linhas seguintes do texto foram modificadas e escritas por uma outra pessoa; provavelmente para se adequarem ao que a mesma tia Mundinha informava em carta ao sobrinho Zé Nunes datada de 30.11.1965 quando delineava sua ancestralidade e de seu consorte, partindo do Pe. Manoel Félix e indo em direção aos próprios.
Até este momento pode-se depreender que Zé Nunes, quiçá, já ali estivesse imbuído do propósito de solicitar à escrevente algo sobre suas origens. Haja vista a entrega do caderno ter sido feita à 03.12.1965, parecendo isto, portanto, ser uma conseqüência imediata do interesse despertado pelo que informava a tal missiva.
O que a carta informava era que o tal Pedro Vieira da Costa, último referido na transcrição acima, era casado com Ana (Maria) Bezerra, e que tiveram 11 filhos, entre esses, Joaquim Vieira da Costa, casado que fora com Inês Francisca de Lima (a mesma Inês Gertrudes de Lima ou Inês Maria da Conceição), e tronco comum, este último casal, de várias famílias cedrenses. Aliás o casal Joaquim - Inês já motivou uma outra postagem neste mesmo blog.
A bem da verdade, já neste ponto, é preciso que se faça algum reparo naquelas anotações. É fato ter existido um casal Angélica - Manoel Vieira. O nome que me parece hoje ser o correto é Manoel Vieira da Silva, casado que fora com Angélica Maria da Conceição, ele nascido no Engenho do Trapiche, Serinhaém, Pernambuco, ela (Angélica), filha natural de Clara Maria.
O outro ponto importante a mencionar é que há de nosso interesse dois Pedro Vieira da Costa, o pai e o filho. O Pedro Vieira da Costa, casado com Ana Maria Bezerra - esta filha de Raimundo Duarte Bezerra (o nosso Papai Raimundo), era filho do outro Pedro Vieira da Costa, este casado com Eusébia Maria da Conceição. O Pedro Vieira da Costa (pai), casado com a Eusébia, era sem dúvida um dos filhos do casal Manoel Vieira - Angélica.
Parece-me ter a tradição oral legado à posteridade algum problema em torno do casamento de Manoel Vieira da Silva com Angélica Maria da Conceição. Não sei exatamente o que poderia ter motivado tal problema, mas o linhagista Pedro Tenente - ´agricultor e analfabeto´, fez certa referência a isso quando dissera: “Desgostando-se também naquela época o Pe. Manoel Félix, vigário de Santarém em Pernambuco por causa de um rapto que se dera em uma sua sobrinha, digo, em uma mocinha que desde tenra idade criava, rapto este praticado por Manoel Vieira da Costa, procurou o Pe. Félix o Ceará colocando-se numa capelaria na antiga Telha (...)”. [2]
O texto apesar de não esclarecer muito bem o fato deixa-nos margem a pensar numa ligação mais estreita entre Angélica e o Pe. Manoel Félix. Além do mais existem ao menos dois fatos que ligam Angélica ao nosso clérigo: a) Angélica ser filha natural de Clara Maria, ou seja, de pai ignorado; b) Angélica ter tido com Manoel Vieira da Silva um filho também de nome Manoel Félix da Costa – uma homenagem ao avô (?), além de outros dois que carregam, pelo menos parcialmente, o sobrenome do clérigo, quais sejam Pedro Vieira da Costa e Antônio Félix Vieira...

Até bem pouco tempo (cerca de 1 (um) mês atrás - nov.2016) isto era tudo que eu poderia afirmar em relação a uma possível prole do Pe. Félix. Já agora...

Bom, agora a história é outra...

Encontrei confirmação apodítica, firmada em declaração da sobredita Eusébia, esposa de Pedro Vieira da Costa, confirmando que seu esposo era NETO por via materna do Pe. Manoel Félix da Costa. Vejamos:




"Declarou mais possuir
o seu casal, no valor do sítio Olho d'Água, 'mistiço'
 com o sítio Aba da Serra a quantia de vinte
mil reis (20$000) por doação que na dita terra fizera a seu
falecido marido SEU AVÔ MATERNO, O PADRE
MANOEL FÉLIX DA COSTA."

Assim, depois de décadas de busca de Zé Nunes, e minha também, a conversa está encerrada: somos descendentes do Pe. Manoel Félix da Costa.

Em tempo; ANTÔNIO FÉLIX VIEIRA referido antes é povoador no São José de Mãe Velha.

[1] SILVEIRA, Aureliano Diamantino. Ungidos do Senhor na Evangelização do Ceará (1700 a 2004), vol. III. Fortaleza, Premius, 2004.
[2] MORAIS, Pedro Gonçalves de. O Passado no Presente. Fortaleza, Ramos & Pouchain, 1933.

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